BRASÍLIA - Deputado de primeiro mandato, Amauri Teixeira (PT-BA) conseguiu ao longo do ano se tornar o “Senhor da Mesa da Câmara”, mesmo sendo quase um penetra naquele espaço: o petista, que não ocupa uma das 14 vagas na Mesa Diretora da Casa, é quem mais presidiu sessões este ano. Alcançou esta semana a marca de cem sessões, superando até o presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Para o intento, seus esforços não são poucos: é o primeiro a marcar presença na Casa, o primeiro a chegar no plenário e o primeiro a sentar-se na disputada cadeira de presidente. Uma tarefa que requer disposição física, não comprometida pelos 1,80m de altura e 119 quilos.

Até a última sexta-feira, Amauri comandou exatas cem sessões, entre deliberativas (quando há votação) e não deliberativas (só debates). Henrique Eduardo Alves comandou 97. Simão Sessim (PP-RJ), segundo secretário da Mesa Diretora, aparece em terceiro, com 83 sessões presididas. O levantamento foi feito pela Secretaria Geral da Mesa, a pedido do GLOBO. Entre os colegas, Amauri, além da imagem de bonachão e boa gente, ganhou a fama de “fominha”, tamanha sua ânsia por comandar os trabalhos. Dali não sai e ninguém o tira.

O “projeto de poder” de Amauri começa cedo. Às 8h30m, já está no Congresso. Se o plenário estiver aberto, senta-se na Mesa e aguarda o horário para abrir a sessão. Na última quarta-feira, às 12h05m, lá estava ele, a postos para uma sessão que só começaria às 13h30m. Ele chega a despachar com os seus funcionários ali mesmo. Nem vai ao gabinete. Na última terça-feira, era o primeiro da fila para assegurar o primeiro lugar no painel de inscrição de oradores. Ao lado, outros parlamentares, que disputavam a prioridade para discursar, jogaram a toalha e suplicavam para que Amauri desse uma chance a eles.

— Ô Amauri, pelo amor de Deus! Já tá aí? — disse, bem-humorado, Giovani Cherini (PDT-RS).
‘É extremamente difícil ganhar dele’
Benedita da Silva (PT-RJ), que chega cedo, mas não o suficiente para superar o colega de partido, desabafou:
— É para falar do Amauri?! Eu falo! É extremamente difícil ganhar dele. Quando o Amauri está presente, é o primeiro em tudo. Em discurso dado como lido, em breves comunicações, em presidir sessões. A gente torce para que ele não apareça. Ou que apareça depois. Ele sempre é o primeiro. Deveria ter cota feminina.
Onofre Santo Agostini (PSD-SC), outro que aguardava na fila e que também gosta de presidir os trabalhos (já o fez por 67 vezes), falou sobre o petista:
— Ele é campeão mundial. Pelas regras da Casa, o Amauri, que é de primeiro mandato, seria um dos últimos a presidir a sessão. Mas é boa-praça, um bom deputado, conhece o trabalho e gosta do que faz. Age com imparcialidade. Os deputados cedem o espaço para ele.
Como todas as sessões da Câmara são transmitidas ao vivo, há uma disputa para ser o presidente da vez. O regimento diz que os integrantes da Mesa têm prioridade, mas nem todos demonstram interesse. No grupo de excluídos da direção, além de Amauri e Onofre, outros três disputam a função: Izalci (PSDB-DF), Mauro Benevides (PMDB-CE) e Luiz Couto (PT-PB).
Benevides teria a prerrogativa, por ser um dos parlamentares com mais tempo na Casa, mas muitas vezes abre mão de presidir para Amauri.
— Ele tem aptidão para dirigir os trabalhos. Está se potencializando para, no momento certo, eleger-se, de fato, presidente da Câmara — disse Benevides.

Na Voz do Brasil, de quinta a quinta

Amauri, além de ser um dos mais assíduos na Câmara, atuou para aprovação de projetos como a PEC das Domésticas; luta pelo projeto que pune quem explora o trabalho escravo e coordenou a Frente Parlamentar da Criação dos Tribunais Regionais Federais, proposta polêmica que criou quatro tribunais nos estados, entre os quais um na Bahia, seu estado natal. Amauri é auditor fiscal da Receita e um aliado de criação de cargos em órgãos federais.

— O (José) Genoino diz que sou o rei do corporativismo. Mas não é isso. Fui líder sindical e conheço as dificuldades de várias categorias — disse Amauri.
Seu empenho em aprovar projetos já recebeu elogios de Eduardo Alves numa das sessões.
— Quando eu precisar aprovar algum projeto vou chamar o deputado Amauri — disse Alves.
Amauri negou que tenha sanha pelo poder e que não se trata de autopromoção:
— Os deputados que mais frequentam e que têm mais disposição acabam presidindo. Chego cedo e fico quase que permanentemente no plenário. A presidência acaba com quem mais se dispõe.
Disse que não é um trabalho fácil:
— Não é moleza, não. Tem ansiedade, alguns conflitos, mas nunca houve problema. Mas minha atividade parlamentar não se restringe a isso.
O deputado contabiliza todas as suas horas na presidência e suas aparições na “Voz do Brasil” e no Jornal e na TV Câmara.
— Estive na Voz do Brasil de quinta a quinta semana passada — orgulha-se, mas acaba se entregando: — Quando você está na presidência, todo mundo vê na Bahia. É importante.

Fonte: O Globo

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